Bem vindo à zona por mim escolhida para escrever o que me vai na cabeça..

...ou que, na maior parte das vezes, finjo que vai, porque fica sempre bonito fingir que se sente, como o poeta.

PS


segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Em tom de segredo...

Refugio-me muito na racionalidade.
A sério.
Nada parece digno de sentimentos negativos quando visto como um todo e excluindo pontos de vista.
Sempre fiz o possível por pensar muito sobre muito, e tenho-me apercebido de que isso me tira o gozo do carpe dien. Conclusão óbvia… dirias tu, mas não penso que assim seja, ou pelo menos que assim tanto seja.
Sentimentos de alegria, posse, perda, amor, ódio, orgulho, arrependimento, ou de qualquer outro tipo tendem para desaparecer quando pensamos na situação como consequência de algo que nos não nos tenha sido inerente, ou até mesmo que tenha, mas, no 2º caso, rapidamente se percebe que o que sentimos não irá alterar a realidade. E é então que a racionalidade toma conta, e os sentimentos se tornam lógicos, consequências óbvias, desnecessárias, sem objectivo, e assim perdem a razão de ser.
É o que faço quando quero evitar dor, e por vezes vejo-me a não sentir prazer pelo mesmo motivo. Já me é inato, preparei-me para isso, e não é raro o piloto automático tomar controlo sem me pedir sequer.
E, nesse mundo, finjo que me alegro, e que tenho, e que perco, e que amo, e que odeio, e que me orgulho, e que me arrependo como os outros, mas não.
Não como os outros, não com vontade, não sem o plano B tanto à mão que nem chegue a libertar o A.
Mas há alturas em que o piloto se distrai, ou não se alerta por nem eu, aliciado pelos prazeres traiçoeiros do sentir, não querer que o faça, e é aí que sinto como os tantos outros, é aí que não vejo para além dos meus olhos, e que o meu cérebro se limita a receber e a beber, sem filtrar minuciosamente. E é também nessas alturas que me lembro da segura viagem controlada e desinteressantemente relativada, e que me lembro de que a qualquer altura poderei precisar do meu piloto, e que ele poderá não acordar tão rapidamente como irei querer.
É nessas alturas que me vejo enredado por sensações não lógicas, cheias de sentido, tentando voltar ao meu mundo racionalmente desinteressante, onde não sinto, não rio, não choro, não nada, mas que também já não me quer, por o ter traído por demasiado tempo.
Mas acabo sempre por regressar, e por olhar com indiferença para o que outrora me fazia entristecer, e por perder um pouco mais daquilo que me faz humano, como aqueles que se alegram, que têm, que amam, que odeiam, que se orgulham, e que se arrependem, e dos quais só me rio por ausência de pena própria, por não conseguir viver somente do outro lado, por ser forte a analizá-los e a evitar essa debilidade que não consideram sequer evitável, mas fraco ao ponto de usar essa força em demasia, não os querendo perceber. Não a toda a hora.
E é isso.
E mais, que não digo.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Dói-me.

Tanto.
Cá dentro, onde não chego nem vejo.
Dói-me onde eu nem sabia que existia, mais do me julgava deixar.
Dói-me um doer infantil, dos que ardem mas não curam, por nunca antes terem doído.
Dói-me.Tanto…
Nalgum lugar que ignoro.
Qualquer sítio, cá para dentro, entranhado, longe dos que já sei como doer.
Dói-me, e não aprendo a doê-lo, só o sinto, longe, mas por aqui.
Sinto-o e dói-me naquele sítio que nem conheço.
Dói-me muito, juro.
Só não sei dizer onde.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Poesia (?) daquela inexperiente

Por vezes sinto, não como dantes.
Durante momentos eternos na hora.
Imagino ser como outrora,
Mas o sentir dura instantes.

Lembro, vagamente,
O sentir de alma pura,
Lembro, somente.
O sentir já não perdura.

Sinto, mas pouco,
E fugazmente.
Ou finjo sentir como um louco,
Em jeito de forçar a mente,
Farsa, comédia, cenas de um acto,
Esperando vir a sentir de facto.

Não sinto, ponto final.
O sentir perde-se no caminho,
E nem o guio, perca-se sozinho,
Fico eu e o racional.

Não sinto. Nem quero,
Que sentir agita a alma
A minha anseia calma,
E quando sinto, desespero.

Talvez nem sinta mais, mesmo.
Talvez seja esse o meu sesmo.

Não sinto.
Não por não querer,
Mas por já não mais saber.

sábado, 11 de setembro de 2010

Os Condutores de Fim-de-Semana

São uns seres com que todos nós nos cruzamos semanalmente, nunca tendo eu, estranhamente, escrito sobre eles.
Aqui está, então, tal como merecem.
O Condutor de Fim-de-Semana (de agora em diante definido como CFS, para facilitar e poupar bytes, que isto da crise calha a todos) é muito facilmente identificado, devido ao seu veículo, por qualquer pessoa que conduza diariamente.
Ora reparem:
Tem de ter um carro antigo, daqueles que não se trocam porque residem na garagem, da qual só saem ao fim-de-semana para fazer o gosto ao pé do piloto e, consequentemente, não se deterioram, porque as Marias lhes puxam o lustro todas as 6ªs feiras à tarde.
Tem de deitar muito fumo pelo escape.
Muito mesmo, que o fumo não se evita com puxadelas de lustro.
O CFS tem, portanto, um carro com cerca de 26 anos e meio que aparenta ter acabado de sair do stand, mas que fumega mais que o Vesúvio durante aquela altura do nevoeiro em pompeia.
Em relação ao condutor em si, é necessário que a utilização dos piscas seja aleatória e independente das manobras, o ponto de embraiagem seja feito de forma a ouvir-se à distância a que se consegue ver o fumo (um não tem o mesmo efeito aquando da ausência do outro, quando o tema da condução pós semanal se discute) e que a velocidade nunca exceda os 30 km/h, o que nos remete para o próximo factor essencial e indispensável para que alguém possa ser considerado um genuíno CFS:
“O travar”.
Quando digo “o travar”, não me refiro ao simples acto de pisar o pedal do travão quando é necessário reduzir a velocidade ou parar o carro, mesmo.
Não.
Refiro-me a um acto mais instintivo do que a respiração em si, como que se o pé direito do piloto ali, repousado no pedal do meio, pertencesse.
Exacto.
O verdadeiro CFS trava como quem pisca os olhos, tendo ainda menos necessidade de justificar o travar do que o pestanejar.
O CFS de gema trava porque sim, trava porque não, trava porque está numa descida, trava porque está numa subida, trava “porque aí vem uma rotunda”, trava porque está a sair de uma rotunda, trava porque “aqui não há rotundas”, trava porque “ali vem um carro”, mesmo que seja na faixa contrária, trava porque “não vem nenhum carro, mas eles aparecem aí que nem coelhos, que eu sei, porque não nasci ontem e já conduzo duas vezes por semana vai para mais de vinte anos”, trava porque lhe apetece virar ali, trava porque “não apetece virar ali, mas pode vir a apetecer quando lá estiver mesmo em cima, que isto de mudar de direcção não é nenhum projecto de vida e pode e deve, por isso mesmo, ser decidido na hora H, conjuntamente com a utilização de qualquer um dos piscas”, trava porque está um semáforo lá ao fundo, trava porque “não há semáforos aqui, e isso é um perigo, por isso é melhor ir travando já, para que quando precisar mesmo de o fazer, já esteja feito”.
Segurança acima de tudo.
Sabem o que seria seguro, também?
Não sabem, mas eu digo:
Juntá-los todos em grupinhos de, vá lá, cerca de 40, pô-los dentro de uma espécie de carros grandes, conduzidos por profissionais que o façam diariamente, que obedeçam a carreiras pré-definidas e façam paragens em vários sítios, de forma a agradar a todos os CFS’s. Um conceito assim muito parecido com o dos transportes públicos, mas que se use também aos fins-de-semana.
Eu sei.
Sou um visionário.
Use a minha ideia, quem quiser e puder, e faça deste mundo um local melhor para todos nós, que eu não posso mais do que escrever baboseiras no meu blog internacionalmente desconhecido.
Beijinhos lustrosos.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

E agora?

Sinto falta.
Falta de temas de escrita, criados por quem me agita aquela parte negra do pensamento mas nunca o humor, que esse tenho guardado para quem não me agita partes negras.
É um dos problemas das férias.
Estou com quem quero, quando quero. Não há obrigação de aturar gente que me agite os dedos.
Vontade própria traiçoeira que me faz afastar, sempre que possível, quem não me reanima. Depois vai-se indo o ritmo das teclas no pc, fica tudo mais calmo, afasto-me de uma das partes de mim que mais me fazem sentir eu.
Mais duas semanitas de sacrifício, depois volto para os meus amores criadores de letrinhas... e aí sim.
Aí volto a ter a cabeça cheia de comichões que não consigo coçar, volto a tentar deixá-las por aqui, sem sucesso, que de lá não saem nem por nada.
Volto a tentar livrar-me delas inutilmente, mas sabe tão bem.
Alivia.
Mas nunca páram. E gosto.
Que falta desse mundo confuso onde tento fazer o que não quero, sabendo à partida que não o vou conseguir, e onde o tento assim mesmo, por conhecer o agridoce guloso da tentativa falhada...
Saudadinhas...
Esmerem-se e produzam-se, que já falta pouco.
Surpreendam-me!
Mal posso esperar.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Escrevo

Porque sim.
Porque me apetece.
Porque cá tenho dentro o nada, e é isso que lá ponho fora, pelas pontas dos dedos.
Escrevo porque preciso.
Escrevo sem pensar, sem hesitar, sem corrigir depois.
Escrevo sem forma, sem nexo, sem nada.
Escrevo porque me alivia, porque me faz respirar com vontade de novo, apagando o nada que mo dificultava.
Apetece-me dizer qualquer coisa, mas não tenho o que dizer, por isso escrevo.
Sobre nada.
Mas alivia-me.
E vale-me por tudo.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Um dia

“Um dia ir-te-ás arrepender amargamente por não me teres querido quando te quis.”
-Vou? Porquê?
“Porque vais perceber o quão importante eu sou na tua vida. Vais ver, prepara-te.”
Eh lá, parece que aí vem artilharia pesada.
Mas daquela que vem depois de avisar…
Daquela pesada, que esmaga cegamente tudo o que apanha à frente, só que não apanha nada à frente, porque já avisou que vinha.
Artilharia pesada e fã de avisos.
Da inútil, precisamente.
Se me conhecesses minimamente, saberias que essa atitude insegura disfarçada de prepotência só me iria causar pena de ti…
“Vais ver, prepara-te.”
Para quê?
Eu não me preparo… despreparo-me, quando quero.
Despreparo-me. E custa-me.
Muito.
Por isso sorrio quando me dizes para me ir preparando.
Se estou pronto?
Eu estou é à espera.
Faço tudo por uma boa risada.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Entrem e sirvam-se

Isso, entrem todos. Vão embebedar essas racionalidades, já que nem chegam a ter o direito de as usar enquanto sóbrias. Pena que ninguém as use por vós… São milhões delas a irem para o desuso. É um desperdício quase necessário…
Se o que vos dizem lá dentro fosse realmente verdade, esse criador infinitamente sábio não atribuiria o fenómeno do pensamento a quem fosse achar o seu uso demasiado doloroso. Dá-lo-ia somente a quem tem gosto em se magoar em prol de uma milésima de conhecimento, ganha com suor e desespero, e não com reconfortos e atenção dada somente ao que gostam de ouvir.
Entrem, embebedem-se… assim nem irão notar quando outros gozarem com a vossa cara. Vão achar que os sóbrios é que estão bêbados, e isso agradar-vos-á, servirá de tema de conversa para com os vossos idênticos, e irá incentivar-vos a não perder a próxima bebedeira conjunta.
Entrem, fracos… evitem a ressaca mantendo-se embriagados. Foi para isso mesmo que nasceram: para passearem alegremente ao lado da vida, para serem felizes nessa bebedeira, para servirem de termo de comparação aos sóbrios – estúpidos mas conscientes - que por vezes ainda dispensam tempo discutindo com esse álcool que fala por vós.
Entrem, bebam à vontade, que este álcool não tem fim, é servido aos domingos em grandes quantidades, e diariamente em amostras, a troca de algo que não vos passa pela cabeça, mas que aparentemente só tem valor para quem o pede, e para quem não aceita cedê-lo a troco de nada.
Entrem e sirvam-se, vermes, evitem apenas trazer o álcool cá para fora, que eu gosto é de aguinha.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

São reais

“Gosto dos textos… mas são… como hei-de dizer? São… Reais.”
Reais.
Exacto.
“E a realidade magoa.”
Magoa, sim. Magoa porque a ignoram sempre que possível.
Ignoram-na, desprezam-na, ou rasgam-na e tentam cosê-la com linhas perfeitas, tecidas ao gosto de cada um.
Não faltam pessoas a falar dessas realidades de linha e agulha.
Não falta gente a tentar rasgar a realidade, a cosê-la a seu gosto, e a escrever sobre isso.
Não faltam seres a escrever sobre as realidades das linhas com cores de que todos gostam.
Não faltam mesmo.
Aliás, sobejam.
Mas, mesmo assim, não resulta. Vivem nesses remendos frágeis, vivem atrás da linha e da agulha, e uma vez por outra lá vem Aquela que nunca se ausenta, por mais que não a olhem de frente.
Lá vem Ela, e esteve só à espera de um puxão mais forte nessa linha para vos dar as boas vindas aos panos imaculados, crus e brancos, com as costas da mão.
Ela volta.
Sempre.
Escrevo sobre ela, já que poucos o fazem. Escrevo sobre o que muitos não gostam de ler.
A minha escrita relembra que remendos coloridos não equivalem a pano limpo, sem rasgos, vilmente perfeito.
E tento encará-La de frente, tendo também eu as minhas linhas, mas não gosto de coser.
Coso muito pouco.
Escrevo muito.
E sempre sobre panos brancos.

O Homem da vida dela

“Pensavas que eras tu o homem da vida dela? Não és…”
Espera, vou só rir e já penso nessa pérola.
Já está.
Mulher inconsciente, não digas isso. Eu não vivo nesse mundo de homens e mulheres da vida uns dos outros.
Não venhas tentar assustar o céptico com o bicho papão debaixo da cama.
Eu não vivo nesse livro infantil. Não escrevo a minha futura história perfeita cada vez que inicio uma a dois. Não considero alguém perfeito dois meses depois de o conhecer, e muito menos digo que considero com esperança de que isso influencie a realidade. Não ignoro esse livro de previsões cada vez que desço à Terra nem o volto a abrir à mínima impressão de levitação.
Não.
Não tenho livros a dois. Tenho o meu, e esse nunca irei ignorar. É a coisa mais importante que tenho.
O meu livro.
Racional, crítico e descritivo, mas só meu e de mais ninguém.
Por isso, ser limitado, quando te rires ao pensar que estou mal por não ser o “homem da vida dela”, lembra-te de que assim é por opção minha e que ela não me considera como tal porque a evitei como que a uma doença contagiosa.
Isso mesmo.
Evitei-a.
A ela e ao livro infantil onde já escrevia antes de eu saber da sua existência.
Não quero ser protagonista de livros para crianças.
Esse “homem da vida dela” foi a rolha tosca que conseguiu arranjar para tapar o provisório e não primeiramente meu espaço no seu conto de fadas, tal como outros irão aparecer e tomar o mesmo título quando o actual “homem da vida dela” se cansar de o ser.
A sério.
Não me conheces.
Eu penso minuciosamente a curto e longo prazo, não sinto o momento só porque sim. É isso que me diferencia de vocês todos.
Não fales do que não sabes.
Ah, e bom proveito para o coitado.
Vai precisar dele durante os próximos meses de dieta de carne caprina já meio mastigada.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Sente

Deixa-te sentir, que sentir é viver.
Sente.
Isso.
Dói... Pois. Faz parte.
Não sintas, então.
Não sintas, não vivas mais que assim não dói. Só dói a quem sente, e só vive a quem dói.
Viver outra vez?
Sentir outra vez.
Pois vai doer, sei. Também já vivi.
Viver sem doer? Não podes.
Sente e vive, ou esconde-te e vê quem o faz por não ter escolha.
Para eles é mais fácil, eu sei. Reagem, não decidem.
É a tua cruz... poder decidir.
Carrega-a.
Lamenta-a, se quiseres.
Ou orgulha-te dela.
Mas decide.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

E por que não, também, imagens?

Cá vai a primeira de muitas ou poucas.

Fez-me rir.

As Almas Gémeas

Adoro quando duas pessoas se acham almas gémeas.
Adoro tanto.
“Amamo-nos loucamente e somos compatíveis a todos os níveis. Somos almas gémeas.”
Adoro, não só por acreditarem em almas gémeas, como por se considerarem as respectivas um do outro.
“Exacto, não é espectacular?”
É pois.
Mas mais espectacular ainda é o facto de, para além de serem almas gémeas (ou seja, feitos com o intuito de ficarem juntas) no meio de sete biliões de pessoas que andam a respirar o ar um dos outros pelo mundo inteiro, terem tido a infinita sorte de viverem a uma distância reduzida que lhes permitisse relacionarem-se e darem-se o suficiente ao ponto de se identificarem.
“As nossas personalidades reconheceram-se como complementares pouco depois de se terem cruzado! A mente humana tem coisas fantásticas!”
Então não tem? Tem coisas fantásticas, mesmo. Algumas delas a mais, até… diria eu.
Invejo-os tanto. E aposto que tal facto se deve por nunca ter encontrado a minha alma gémea.
A minha alma gémea, com a sorte que tenho, deve andar a passear num país que provavelmente desconheço, a falar uma língua cujo nome não consigo pronunciar, e nunca irei ser feliz por isso mesmo.
Sou tão infeliz.
O que me vale é a gentinha limitada que por aí anda, que sempre me vai entretendo, quanto mais não seja a achar que este universo foi feito a pensar nela e em todos os outros símios bípedes, toscamente evoluídos, que pedem muito ao seu criador (que por sua vez também é filho dele próprio, mas deixemos isso para outro texto) para os ajudar a encontrar a sua alma gémea.
E ele ajuda!
E eles encontram-se!
Lindo.
Adoro-vos.
Beijinhos e Cerebrum para todos vós, meus amores.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Ri-te

Ri-te, triste.
Ri-te, feiona.
Ri-te dos outros para evitares chorar de ti própria.
Ri-te com essa vontade que não é tua, mas sim desse mundo fragilmente imaginário onde vives, onde és linda, onde és simpática, onde tens um príncipe encantado e onde ninguém vos compreende e todos vos invejam.
Ri-te, estúpida. Ri-te, que o teu riso alto afaga a pena que de ti têm.
Ri-te, que isso te adormenta, te embebeda, te tira a vontade de ser simpática.
Ser simpática seria uma boa forma de compensares esse teu aspecto, mas não.
Não.
Ela, não.
Ela é demasiado independente para ser simpática só porque sim.
Ela é demasiado segura.
Ela tem uma personalidade muito forte, não vai em simpatias casuais. Nunca.
“Independente, segura, forte.”
Posso, também eu, tentar uns adjectivos?
Feia e antipática. Isso mesmo.
Intolerável.
“Detesto-te, não tens piada nenhuma”
-Também te adoro.
“Deves pensar que sou dessas. Não vou em falinhas mansas.”
-Ok. Acrescento “mentecapta” à lista. Falinhas mansas? Tenta antes ironia, querida.
Olha bem para ti, vá.
Isso.
Agora olha para mim...
Pronto.
Percebes agora por que não haveria lógica em eu dar-te falinhas mansas?
“Não gostas, não comes”
-Pois não, nem que me pagassem. Podes apostar essa cara feia nisso.
“Estúpido!”
-Desculpa? Desta vez não te consegui ouvir… O teu ego estava a gritar tão alto….
Abanaste, não foi?
Pois foi.
Agora?
Agora chora, que rio eu.

domingo, 16 de maio de 2010

O Senhor Perfeito

O Senhor Perfeito é muito feliz.
O Senhor Perfeito vive em perfeito equilíbrio com a Natureza e com todos os meios que o rodeiam.
O Senhor Perfeito é perfeito.
O Senhor Perfeito nunca tem discussões sobre nada - tem somente trocas de ideias - porque compreende os pontos de vistas de toda a gente e sabe que os mesmos dependem de factores educacionais e culturais, ou de experiências vividas por cada indivíduo, e não do apetite intrínseco de contrariar os outros.
O Senhor Perfeito força-se a utilizar muitas palavras caras (para ele) como “intrínseco” nas suas trocas de ideias, não para criar a impressão de ser culto e possante de um vasto e completo vocabulário, mas sim porque assim o é, e não faz questão de esconder essas suas grandes qualidades “adquiridas” a ferros.
O Senhor Perfeito faz mais questão de mostrar as suas “qualidades” aquando das suas trocas de ideias do que de ouvir o que lhe têm a dizer, já que sobre assunto nenhum sabe alguém sabe mais que ele, e que o mesmo só ouve os restantes reles seres por uma questão de humildade e de preocupação (oh, que caridade) pelo conhecimento alheio fornecido, como não poderia deixar de ser, por si próprio.
O Senhor Perfeito faz questão de frisar a sua humildade dizendo periodicamente, em público, que não é perfeito, esperando sempre que alguém o contradiga, subindo o seu frágil e influenciável ego, mas não.
O Senhor Perfeito é um vasto conhecedor de todos os campos do conhecimento humano e sobre-humano, ou pelo menos tal afirma ser, subtilmente, com o intuito de assim mesmo ser visto.
O Senhor Perfeito não tem como objectivo ter uma vida de luxos, já que o Senhor Perfeito tem um carro que consome pouco (daqueles que se arrastam), e que se orgulha disso referindo-o em alto e bom som de cada vez que passa um automóvel topo de gama por ele - e se rói de inveja por dentro -, argumentando com preocupações ambientais e resistência à natureza consumista humana.
O Senhor Perfeito apoia psicologicamente e aplaude de pé causas que com caridade tenham a ver, mas não fornece um tostão para as mesmas, já que se encontra sempre ocupado a adquirir conhecimento ou a vomitá-lo para cima dos outros.
O Senhor Perfeito casa-se. Casa-se e ama muito a sua mulher, com a qual faz o amor uma ou mais vezes por semana, enquanto lhe diz ao ouvido, baixinho, que a ama muito.
A mulher do Senhor Perfeito, a Senhora Perfeita, também ama muito o Senhor Perfeito, e sabe que o Senhor Perfeito nunca a irá deixar porque é muito fiel e cumpridor de regras por ele impostas e assumidas como universais, encornando-o portanto a torto e a direito sempre que possível, já que o seu desejo sexual não se contenta com o amor uma ou mais vezes por semana, mas sim com sexo, tal como a expressão "desejo sexual" deixa indiciar.
O Senhor Perfeito sabe que tem um grande e pontiagudo par de cornos, mas age como se tal não soubesse, uma vez que tem plena noção de que o mesmo foi semeado e regado devido à natureza poligâmica humana à qual a sua mulher não escapa, e lembra-se muito de que a ela o ama mais que tudo, mesmo quando grita o nome do seu personal trainer (por sua vez pago pelo Senhor Perfeito, obviamente) enquanto se contorce.
O Senhor Perfeito acha que se mais senhores fossem como ele, o mundo seria melhor, e com certeza todos os personal trainers concordam com essa sua afirmação.
O Senhor Perfeito é mandado à merda com frequência por pessoas que não estão para o aturar, mas o Senhor Perfeito sabe que essas pessoas só o fazem porque não conseguem atingir o seu nível sublime de interpretação global.
Vai, Senhor Perfeito, vai.
Vai e reproduz-te, que o mundo precisa de mais seres como tu, já que mandar pessoas à merda sabe sempre bem, em especial quando elas continuam a achar-se espectacularmente humildes e intelectualmente superiores a todos depois disso.
Vai! Vai, Senhor Perfeito!
Vai à merda.

sábado, 15 de maio de 2010

O Coiso

Há um tema que há muito me ocupa aquela parte do cérebro que não serve para mais nada a não ser guardar a categoria de temas da qual faz parte o tema inicial por mim evocado mas não especificado.
É o tema do coiso.
Começo bem… com uma frase longa, confusa, sem pontuação, com a repetição (irritante) da palavra “tema” e, como se não bastasse, outra de seguida, que aparentemente não quer dizer absolutamente nada, mesmo a jeito de testar a vontade do leitor de ir ver televisão.
Largue o telecomando, por favor! Passo a explicar:
O “coiso” é, para mim, o fenómeno que se verifica quando é evidenciado o conceito que o público tem de um autor, seja ele prosador, poeta, dramaturgo, parvo, produtor de cinema ou teatro, e por aí adiante. Neste caso focar-me-ei mais afincadamente no exemplo dos escritores, já que são os que conheço menos mal.
Tomemos o hipotético Sr. Teobaldo como exemplo.
Imaginemos que o Sr. Teobaldo é um escritor conceituado, (dos que escrevem muito e bem(?), ganham prémios dos que se exige que sejam entregues por minissaias, decotes, telepontos e discursos interpolados por “sendo que’s”) daqueles que cometem dois livros de 200 páginas por semana, desafiando até mesmo a capacidade que o próprio Marcelo Aspira Livros Rebelo De Sousa tem para os ler sem ficar com algum em atraso.
Ora, geralmente, neste caso, o conceito de ”autor Teobaldo” é bem mais complexo do que o próprio Sr. Teobaldo em si.
Porquê?
Essa é fácil… sinceramente esperava mais do leitor.
Mesmo assim, justifico:
O conceito que o Sr. Teobaldo criou dá azo a novos Teobaldos - nas cabeças de quem lê os seus textos - devido a ideias que ele (Sr. Teobaldo) passa, por erros que comete, não deixando (o conceito) margem para que estes sejam reconhecidos como tal.
Este conceito é criado pela necessidade dos leitores de quererem ver mais nas páginas repentinas e apressadas que o Sr. Teobaldo “escreve” com tanta fúria e vontad€.
Quero com isto dizer que, quando lemos textos de algum Teobaldo, não pensamos "ora deixa cá ver clichés, ideias mal explicadas e faltas de vocabulário". E mais… se os virmos, achamos que foi de propósito, com o intuito de nos criar a sensação não sei o quê, sensação essa que provavelmente nem o próprio Sr. Teobaldo conhecia.
O certo é que, conhecendo-a ou não, lá enfia o Teozinho mais uns milhares ao bolso, à custa de quem quer ver para além do que existe.
Só os erros ortográficos nos saltam à vista, por terem carácter objectivo, e não terem interpretações possíveis, para além de "o gajo não sabe escrever isto..."
E é para isso mesmo que servem os correctores ortográficos automáticos: para evitar que erros objectivos e sem margens para múltiplas interpretações saiam a público de braço dado com os subjectivos, que enaltecem o seu autor, por excesso de fé de quem os lê. Fé em “autores ideais que escreveram isto desta forma para dar a sensação não sei quê” inexistentes.
Muitos milhões de euritos são certamente movidos diariamente devido ao coiso…
Eu, como “escritor” internacionalmente reconhecido por 2 ou 3 pessoas que têm coragem e paciência (e falta de tvcabo, quiçá) para ler o que escrevo, cá me fico pela minha linguagem característica, sem grandes liberdades de interpretação. Cada vez que lanço uma frase como a inicial deste texto, antevejo torceres de nariz e olhares circundantes a equacionar o esforço necessário para ligar a TV, ao invés de cérebros a funcionar à procura de significados inexistentes, mas gosto disso. Gosto que a minha escrita só tenha aquilo que lhe dou, ou que deixo ter, intencionalmente, para quem a lê.
Os meus textos têm objectividade, subjectividade intencional, e vontade de escrever, quando me apetece, sem pressões editoriais.
E talvez, também, algum coiso.
Mas pouco.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Pensamento da semana

Para quê seres tu mesmo, se podes ser melhor?

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Olha eu a topar-te

De longe, de perto, de qualquer lado.
Isso. Disfarça-te.
Disfarça-te daquilo que queres que pensem que és.
Vais escorregar nessa máscara, e eu vou estar lá para me rir para dentro, sem notares.
Insegura.
Fazes tudo por atenção, por desejo alheio por ti, por uma milésima do teu frágil ego, mesmo que isso custe metade do de quem deseja.
Abanaste-me, admito.
Abanaste-me durante breves instantes, até eu perceber que o fazias.
Claro. Agora abano-te eu.
Abano-te, faço-te escorregar sem caíres, para que não percas essa inocência alimentada pela falsa noção de que imperas nesse teu carnaval fútil.
Mas hás-de cair, quando eu me fartar de te ver escorregar.
Hás-de cair, e aí sim, já não estarei lá para te agarrar ou me rir sequer.
Aí já não me interessarei pela tua estabilidade, nem por divertimento mesmo, e já estarei longe.
Aí vais pensar duas vezes antes de voltares a desfilar.
Aí vais perceber que não preciso de disfarces para te abanar, mas sim para te manter estável.
Pobre e triste ser…

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Escrevo muito

Escrevo muito… sobre pouca coisa.
É um facto.
Acho que o faço por conforto. Conforto pela minha zona conhecida, pelo meu campo seguro, onde raramente falho e, quando falho, noto em menos de um instante, e corrijo sem que o meu ego note que me enganei sequer.
Gostava de escrever muito sobre muita coisa, ou pelo menos algo sobre mais alguma coisa, mas… ainda não me sinto capaz de fazê-lo, ou pelo menos de o tentar.
O meu tema de escrita é o que o meu filtro mental não deixa passar, é o que ele agarra, por orgulho, por necessidade de diferenciação dos outros, por facilitismo também, e sobretudo por noção. Noção de que o conhecimento desse tema me fortalece, embora me tire a possibilidade de vir a ter outros temas que o façam, mas de forma diferente.
Um dia tentarei escrever sobre algo mais… algo que não se relacione com o meu tema confortável de forma alguma, algo que me dê o gozo da insegurança, o prazer do desconhecido e da ausência de esperança do conforto recuperado. Talvez até venha a falar sobre o oposto do meu tema. Quem sabe, um dia… mas hoje não.
Amanhã.
Talvez.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

“Olha que vistosa… ponto final.”

E assim foi, enquanto observava os abutres instintivos à tua volta.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

"Sobre os teus textos..."

“Gosto do modo como escreves…”, e é só.
Não me admiro… Era de esperar. Nunca tentei agradar através de palavras que escreva com vontade.
Olha esta: se agrado com o que escrevo, das duas uma… ou não foi sentido, ou não foi intencional.
É confuso… também me soou a isso. Mas eu explico…
A vontade que tenho é de escrever, e não de agradar através da escrita.
Não te inquietes… também não adoro o que escrevo, aliás, quando o leio, amuo.
Só podia…
A minha escrita não é para se ler, é para nascer, e guardar após a última oração.
Mas o meu ego fala mais alto, e enche-me de coragem que não é minha, é só dele, e que dura somente até ao último ponto final de cada texto meu. Depois hiberna... até se esquecer do porquê de o ter feito.
E cá estou eu outra vez, a contribuir para o meu amuo, e para o teu conhecimento de mais um eu meu. Incomoda-te? Acho que sim, mas não ao ponto de te desinteressares antes que acabe este texto, queres ver? Olha, vou pôr só mais uma frase…
Já está.
Afinal mais uma.
Outra…
Última…
Ainda aí estás?
Claro que sim… Não desistias nem que tivesses de ler detrás para a frente. É viciante, não achas? Para mim também. É por isso mesmo que continuo a fazê-lo.
Beijo.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O teu azar

foi teres querido qualquer coisa, desesperadamente, enquanto te cruzavas com quem nota, por divertimento, esses padrões primários aos quais obedeces.

sábado, 20 de março de 2010

Milagre da Lágrima

Ora vamos lá então falar de uma notícia já antiguinha mas que me faz comichão (naquela zona das costas onde ninguém chega) desde que a li pela primeira vez.
Pode ser que deixe de fazer a seguir ao último ponto final deste texto…
Muito bem, diz a tal notícia que a dona Benigna, residente em Ancas, Anadia, em Portugal, fervorosa católica e feliz proprietária de uma nossa senhora em tamanho familiar, jura a pés juntos que a figura em loiça chorou uma lágrima de cera.
Esta parte, só por si, já é gira, mas leiam agora esta transcrição com olhos de olhar de lado enquanto se levanta uma sobrancelha:
“"Eram umas 19 horas e eu ia a sair de casa para o carro. Virei-me para ela (a imagem), benzi-me e vi que ela estava a chorar. Disse ao meu marido mas ele não ligou e, quando voltei, uns quinze minutos mais tarde, limpei-lhe a cara e não saiu nada, mas a minha nora tocou-lhe com o dedo e disse que era cera", relata, depressa concluindo: "É um grande milagre para entrar em contacto com as pessoas".”
Mais nada! Sai de casa, benze-se, olha, está a chorar, diz ao marido (que ignora), volta, limpa mas não sai, ora bolas… é só cera… e agora? Adivinharam…
Milagre!
Esta linha de raciocínio faz lembrar a forma como o grande MacGyver fazia, nos anos 90, uma bomba nuclear, partindo somente de uma torta de laranja, um canivete, um corta-unhas e umas cuecas fio dental da rapariga que o acompanhava.
Obviamente, muita gente terá ido de propósito a Ancas só para ver o milagre da lágrima, segundo diz a querida e verosímil dona da figura.
"Tem vindo mesmo muita gente, só hoje foram centenas…”
E foram mesmo… todos ver a santinha chorona e vangloriar a dona Benigna, por ter presenciado tamanho acontecimento na sua própria casa, não olvidando, certamente, a notinha lá nos pés dela (da santa, e não da dona Benigna, que essa não quer o dinheiro para nada). Todos sabemos que, se há coisa de que os santos em loiça precisam, é de notinhas nos pés… para os aquecerem.
Principalmente os chorões, que desidratam facilmente, o que se repercute na má circulação e consequente frio nas extremidades.
Uma coisa é certa: num caso destes, alguém se tem de vangloriar… ou a senhora em questão, ou o gajo que inventou as velas de cera.

sexta-feira, 19 de março de 2010

“Já escreveste sobre mim?”

Não.
Escrevo quando dói ou já doeu, quando me incomoda ou já incomodou, ou quando me passa ao lado após ter esbarrado de frente.
Não me incomodas, não me dóis, não esbarro contigo e, definitivamente, não me passas ao lado.
Até agora só me deste razões para não escrever para além do tema de não escrever sobre ti.
E assim noto que afinal já escrevi (pela 1ª vez) sem me coçar.
Admito que nem foi mau de todo :)
Beijoca*

quinta-feira, 11 de março de 2010

Azares

Há cerca de vários anos (eu sei), estava eu de férias, numa santa terriola, quando me lembro de pregar uns chutos numas pedras à medida que ia passeando pela natureza, perto de um galinheiro.
Ora, a certa altura, para meu grande azar, o meu pé vai mesmo apontar-se ao pescoço de uma pobre e inocente galinha. A pedra acertou-lhe, fazendo um barulho oco, e caiu morto, o galináceo, sem grande estardalhaço.
Engoli em seco.
Matei um animal maior que um insecto. Não é todos os dias… E não gostei da sensação. Ok… tenta esquecer… são coisas que acontecem.
Regressei a casa, estupidamente com fome, parti uma fatia de bolo e servi-me dela enquanto via o telejornal:

“…mais mil baixas confirmadas na guerra do Iraque. Agora, o desporto…”

Era bom, aquele bolo.
Fez-me ganhar o dia.

sábado, 6 de março de 2010

Fazes-me pensar

Não por seres diferente das outras, mas por seres apenas mais uma no meio de tantas.
Afinal enganei-me… Outrora imaginei que fosses feita à minha medida, e foste a única que me fez ponderar tal rasgo de fé.
Mantiveste-me a sonhar durante uns bons tempos, dentro dessa vontade de querer ver mais, mas nunca tudo, que tanto crias. Enganas, tu…
Mas hoje já não, graças aos olhos que me fizeste nascer. Hoje vejo-te, trespasso-te, leio-te como que a um livro aberto - tem menos piada, mas sorrio mais - e tu só me referes que estou diferente. Pudera… foste tu que me fizeste crescer, e nem sabes. Também não to digo… é o meu trunfo, só meu.
O teu discurso não muda… “não sei, gosto de ti, mas não sei”.
Não te preocupes, sei eu.
Sei que não te quero.
Sei que és mais uma das que não sabem o que querem, - e que não me fazem ter esperança de um dia virem a saber - sem se aperceberem de que atropelam muita gente nessa estrada de falta de vontade e de viver. Mas eu já tive a minha conta, e aprendi a ir pela berma, quando passeio contigo.
“Tenta perceber… estou melhor assim”.
Não.
Não estás.
Eu sei.
Estás menos mal, que é diferente.
Agora, limitas-te a tentar evitar o que não queres, e já nem pensas no que queres, ou se realmente chegas a querer.
Como tu, já vieram algumas, e o que te diferencia é somente a ideia que tenho de ti, criada quando ainda não era eu.
Irónico, não? Sou eu que te diferencio, e não tu, por ti.
“Não sei…”
Não faz mal.
Sei eu.
E nem isso sabes.

terça-feira, 2 de março de 2010

Pois muito bem

Hoje apercebi-me (e já não foi pela primeira vez) de que cada vez me espanto menos ao ver erros ortográficos ou gramaticais em documentos/artigos formais. Ora, isto é mau… E suponho que ainda venha a piorar.
Talvez tal problema se possa resolver mudando as regras da língua portuguesa, convertendo erros comuns em leis universais de escrita, evitando assim o incómodo dos cultos e preocupados cidadãos que pontapeiam as (des)actuais em cada linha de "texto" que deixam escapar.
Ah, espera... isso já andam a tentar fazer.
Acordem.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

E venha outro

Ontem fiz uma das muitas coisas que me dão prazer fazer: Representar.
Para mais de 200 pessoas que, embora nem sejam muitas, já têm olhos suficientes para me fazerem sentir grandiosamente pequeno.

E, por isso mesmo, aqui vai algo que escrevi há tempos sobre o assunto:


Mais um sábado de manhã a acordar cedo… nem no fim-de-semana posso dormir até tarde.
Por que o faço, então? Porque o quero e o tenho de fazer.
Tenho ensaios do ***** para participar. Já faz parte de mim, da parte da minha rotina que a torna não-rotineira.
Chego à *****, todos me saúdam com um sorriso de “Olá outra vez” e “Vamos lá outra vez”.
Exercícios de voz, de pose, de coiso e mais não sei quê. Divertem, embora saibam a pouco.
Mas fazem muito… são esses momentos chatos de criação de rotinas que irão levar-me pelo no caminho certo, tomando o lugar do meu cérebro desligado pelo frio dos nervos, quando subir ao palco.
E os sábados vão passando e os procedimentos calejando… e chega o dia D.
Até se ouvir a frase “Vamos abrir as portas”, é tudo relativamente calmo… montagem de palco e ensaios de última hora, nada de mais, mas essa frase traz o nervoso que de miudinho não tem nada.
Todos repetem as suas deixas em voz surda e confirmam se não falta algum adereço.
As mãos gelam e a garganta seca.
O stress e a paz de espírito lutam pela supremacia no meu corpo, ofuscando a racionalidade.
Ouve-se a frase inicial da peça… “Já começou” é o pensamento que passa pelas cabeças dos que estão atrás dos panos e todos ficamos nervosos pelos que já fazem valer as horas investidas, ali, no mostruário, em frente a tantos olhares.
“Aí está a deixa, é a minha vez de entrar.”
A mente desliga.
Subo, as frases saem-me sem esforço enquanto me apercebo dos que me rodeiam, lá em cima. Tomo atenção ao que fazem, correspondo e vai-se mantendo a sinergia.
Hora de humor… lanço-o, não me rio, nem tenho vontade de o fazer (muitas coisas perdem a piada quando repetidas uma vez por semana, durante meses), e sigo.
“O público fartou-se de rir com o que fizeste, reparaste?”
Não.
Lá em cima não existe público. Só eu, os outros e uma grande vontade de lá estar e de não errar.
Não existe mais nada.
Nada.
O meu universo acaba onde não chegam as luzes.
Acaba a minha parte. Saio, sorrio para os que me esperam e já está. Para o ano há mais.
Penso se foi para isto que estive a acordar cedo todos os sábados… se foi para perder o raciocínio lógico por uns momentos, por querer agradar a outros durante uma ou duas horas, mesmo que para isso me tivessem roubado dezenas delas.
Sentarmo-nos na plateia é fácil e divertido… aparecer a tempo, ocupar o lugar, ver, rir ou não, bater palmas, comentar e ir para casa, que amanhã é dia de trabalho.
Devia eu também limitar-me a assistir, não? Não.
Mesmo.
Gosto de ser a fonte do som e o alvo das luzes e dos olhares, mesmo que não os consiga retribuir de lá de cima.
Verdade.
Não olho ninguém nos olhos quando estou em palco e não sei por quê, nem quero saber. Sei que assim resulta, comigo.
É diferente, é stressante, é um sofrimento para que outros se divirtam, é um riso tardio, fora de palco, quando tudo já passou.
É difícil, mas adoro-o.
É teatro.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Escrevo no Pc

Escrevo no PC, e não em papel, não por mania das tecnologias, mas por me sentir mais livre.
Neste mundo digital, não me sinto preso à tinta permanente da caneta, não tenho medo de errar, de riscar, de ter de acrescentar texto com setas e asteriscos.
A minha mente concentra-se em dizer o que sente, e não em como dizê-lo… isso fica para daqui a pouco, sem pressas, quando os pensamentos já não puderem fugir.
Em vez de passear uma caneta pela folha, passeiam os meus dedos pelas teclas. Uso mais a “backspace” do que qualquer outra, e isso ir-se-ia traduzir em gigantes borrões em folhas de papel.
Apetece-me escrever, muito, e não ganho para canetas e papéis aos molhos, cada vez que despacho duas linhas.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Se querem que vos diga...

-Que horas são?
-Se queres que te diga, não sei.

Acabaram de assistir à reprodução fiel de um fenómeno muito frequente em Portugal, mas de nome muito pouco conhecido, (muito pouco conhecido porque acabei de o inventar) chamado “não saber somente aquando da necessidade de saber de outrem”.
Este fenómeno ocorre em abundância na nossa sociedade, e irrita-me.
Pronto, já disse.
E podia acabar o texto já aqui, uma vez que já disse praticamente tudo, mas não o faço, porque não gosto de comentários só com 10 linhas, principalmente quando uma delas é em branco (embora, na minha muito humilde e perspicaz opinião, propositada).
Ora, segundo a bela expressão, o culto e eloquente indivíduo não sabe, mas só porque há alguém que quer saber. Que aconteceria se esse alguém não quisesse saber, então? O indivíduo saberia? Não saberia? Interessar-se-ia por saber, sequer? Não sabemos…mas não por alguém querer saber, (in)felizmente.
Esta expressão bem portuguesa demonstra, para além de muita filosofia e reflexão própria de quem a usa, um grande mau gosto e infantilidade.
Isso mesmo.
Eu explico… Vejamos, então:
Ela é uma espécie de ”até podia saber, mas não sei, só porque tu queres saber. Toma. Bem feita. (Faz beicinho, cruza os braços, franze os sobrolhos e amua)”
Por que a começámos a usar, sendo assim? Não sei… posso, no entanto, atirar para o ar, e dizer que foi algum tagarela que não sabia as horas e, como torcia o nariz à ideia de se limitar a vociferar somente um pouco expressivo “não”, mandou esta, a ver se passava incólume. Tal não deve ter acontecido, e, ao invés de ter retribuído a esta pérola com um merecido e sonoro sopapo, o remetente da rebuscada mensagem deve ter tido uma linha de quase raciocínio do género de “Ena pá! Não sei o que o gajo quis dizer com isto, mas lá que soou bem, soou”. E assim foi… começaram os “se queres que te diga, não sei” a circular na via pública.
Por que a continuamos a usar, mesmo depois de sabermos o que quer dizer?
Se querem que vos diga, não sei.
E, se não quiserem que vos diga, sei, mas não digo, porque não estou para gastar latim com quem não o quer ler.
Passem bem, seus mal-agradecidos, e vejam se começam a pensar mais nestas coisas de interesse para a sociedade, e menos em política nacional e outras coisas que só atrasam o país.

Tenho dito, quer queiram, quer não.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Bora postar!

Bora.
O quê?
Não sei.
Começar com um texto irónico rotular-me-ia como "gozão", um texto sentimental teria o mesmo efeito, mas com "lamechas", e um decadente poria os leitores - ui, tantos - tristes (pela qualidade do tema, ou pela ausência da mesma).
É o problema das primeiras impressões: rotulam e possivelmente decidem o filtro que ligamos quando observamos mais da mesma fonte, por isso faço um post sobre não querer deixar primeiras impressões, e apercebo-me de que mesmo assim acabei por o fazer, de uma forma mais estúpida do que se não o tentasse evitar.

Paciência, fica para a próxima 1ª vez.

Comichões Verbalizadas

E assim começa a minha tentativa de disponibilizar, para quem quiser ver (ou cá vier ter por engano), o que me sai dos dedos.

A ver vamos, no que dá.

Abracitos e até ao 2º post.