Bem vindo à zona por mim escolhida para escrever o que me vai na cabeça..

...ou que, na maior parte das vezes, finjo que vai, porque fica sempre bonito fingir que se sente, como o poeta.

PS


sábado, 15 de maio de 2010

O Coiso

Há um tema que há muito me ocupa aquela parte do cérebro que não serve para mais nada a não ser guardar a categoria de temas da qual faz parte o tema inicial por mim evocado mas não especificado.
É o tema do coiso.
Começo bem… com uma frase longa, confusa, sem pontuação, com a repetição (irritante) da palavra “tema” e, como se não bastasse, outra de seguida, que aparentemente não quer dizer absolutamente nada, mesmo a jeito de testar a vontade do leitor de ir ver televisão.
Largue o telecomando, por favor! Passo a explicar:
O “coiso” é, para mim, o fenómeno que se verifica quando é evidenciado o conceito que o público tem de um autor, seja ele prosador, poeta, dramaturgo, parvo, produtor de cinema ou teatro, e por aí adiante. Neste caso focar-me-ei mais afincadamente no exemplo dos escritores, já que são os que conheço menos mal.
Tomemos o hipotético Sr. Teobaldo como exemplo.
Imaginemos que o Sr. Teobaldo é um escritor conceituado, (dos que escrevem muito e bem(?), ganham prémios dos que se exige que sejam entregues por minissaias, decotes, telepontos e discursos interpolados por “sendo que’s”) daqueles que cometem dois livros de 200 páginas por semana, desafiando até mesmo a capacidade que o próprio Marcelo Aspira Livros Rebelo De Sousa tem para os ler sem ficar com algum em atraso.
Ora, geralmente, neste caso, o conceito de ”autor Teobaldo” é bem mais complexo do que o próprio Sr. Teobaldo em si.
Porquê?
Essa é fácil… sinceramente esperava mais do leitor.
Mesmo assim, justifico:
O conceito que o Sr. Teobaldo criou dá azo a novos Teobaldos - nas cabeças de quem lê os seus textos - devido a ideias que ele (Sr. Teobaldo) passa, por erros que comete, não deixando (o conceito) margem para que estes sejam reconhecidos como tal.
Este conceito é criado pela necessidade dos leitores de quererem ver mais nas páginas repentinas e apressadas que o Sr. Teobaldo “escreve” com tanta fúria e vontad€.
Quero com isto dizer que, quando lemos textos de algum Teobaldo, não pensamos "ora deixa cá ver clichés, ideias mal explicadas e faltas de vocabulário". E mais… se os virmos, achamos que foi de propósito, com o intuito de nos criar a sensação não sei o quê, sensação essa que provavelmente nem o próprio Sr. Teobaldo conhecia.
O certo é que, conhecendo-a ou não, lá enfia o Teozinho mais uns milhares ao bolso, à custa de quem quer ver para além do que existe.
Só os erros ortográficos nos saltam à vista, por terem carácter objectivo, e não terem interpretações possíveis, para além de "o gajo não sabe escrever isto..."
E é para isso mesmo que servem os correctores ortográficos automáticos: para evitar que erros objectivos e sem margens para múltiplas interpretações saiam a público de braço dado com os subjectivos, que enaltecem o seu autor, por excesso de fé de quem os lê. Fé em “autores ideais que escreveram isto desta forma para dar a sensação não sei quê” inexistentes.
Muitos milhões de euritos são certamente movidos diariamente devido ao coiso…
Eu, como “escritor” internacionalmente reconhecido por 2 ou 3 pessoas que têm coragem e paciência (e falta de tvcabo, quiçá) para ler o que escrevo, cá me fico pela minha linguagem característica, sem grandes liberdades de interpretação. Cada vez que lanço uma frase como a inicial deste texto, antevejo torceres de nariz e olhares circundantes a equacionar o esforço necessário para ligar a TV, ao invés de cérebros a funcionar à procura de significados inexistentes, mas gosto disso. Gosto que a minha escrita só tenha aquilo que lhe dou, ou que deixo ter, intencionalmente, para quem a lê.
Os meus textos têm objectividade, subjectividade intencional, e vontade de escrever, quando me apetece, sem pressões editoriais.
E talvez, também, algum coiso.
Mas pouco.

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