Bem vindo à zona por mim escolhida para escrever o que me vai na cabeça..

...ou que, na maior parte das vezes, finjo que vai, porque fica sempre bonito fingir que se sente, como o poeta.

PS


terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Se querem que vos diga...

-Que horas são?
-Se queres que te diga, não sei.

Acabaram de assistir à reprodução fiel de um fenómeno muito frequente em Portugal, mas de nome muito pouco conhecido, (muito pouco conhecido porque acabei de o inventar) chamado “não saber somente aquando da necessidade de saber de outrem”.
Este fenómeno ocorre em abundância na nossa sociedade, e irrita-me.
Pronto, já disse.
E podia acabar o texto já aqui, uma vez que já disse praticamente tudo, mas não o faço, porque não gosto de comentários só com 10 linhas, principalmente quando uma delas é em branco (embora, na minha muito humilde e perspicaz opinião, propositada).
Ora, segundo a bela expressão, o culto e eloquente indivíduo não sabe, mas só porque há alguém que quer saber. Que aconteceria se esse alguém não quisesse saber, então? O indivíduo saberia? Não saberia? Interessar-se-ia por saber, sequer? Não sabemos…mas não por alguém querer saber, (in)felizmente.
Esta expressão bem portuguesa demonstra, para além de muita filosofia e reflexão própria de quem a usa, um grande mau gosto e infantilidade.
Isso mesmo.
Eu explico… Vejamos, então:
Ela é uma espécie de ”até podia saber, mas não sei, só porque tu queres saber. Toma. Bem feita. (Faz beicinho, cruza os braços, franze os sobrolhos e amua)”
Por que a começámos a usar, sendo assim? Não sei… posso, no entanto, atirar para o ar, e dizer que foi algum tagarela que não sabia as horas e, como torcia o nariz à ideia de se limitar a vociferar somente um pouco expressivo “não”, mandou esta, a ver se passava incólume. Tal não deve ter acontecido, e, ao invés de ter retribuído a esta pérola com um merecido e sonoro sopapo, o remetente da rebuscada mensagem deve ter tido uma linha de quase raciocínio do género de “Ena pá! Não sei o que o gajo quis dizer com isto, mas lá que soou bem, soou”. E assim foi… começaram os “se queres que te diga, não sei” a circular na via pública.
Por que a continuamos a usar, mesmo depois de sabermos o que quer dizer?
Se querem que vos diga, não sei.
E, se não quiserem que vos diga, sei, mas não digo, porque não estou para gastar latim com quem não o quer ler.
Passem bem, seus mal-agradecidos, e vejam se começam a pensar mais nestas coisas de interesse para a sociedade, e menos em política nacional e outras coisas que só atrasam o país.

Tenho dito, quer queiram, quer não.

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