Bem vindo à zona por mim escolhida para escrever o que me vai na cabeça..

...ou que, na maior parte das vezes, finjo que vai, porque fica sempre bonito fingir que se sente, como o poeta.

PS


sábado, 11 de setembro de 2010

Os Condutores de Fim-de-Semana

São uns seres com que todos nós nos cruzamos semanalmente, nunca tendo eu, estranhamente, escrito sobre eles.
Aqui está, então, tal como merecem.
O Condutor de Fim-de-Semana (de agora em diante definido como CFS, para facilitar e poupar bytes, que isto da crise calha a todos) é muito facilmente identificado, devido ao seu veículo, por qualquer pessoa que conduza diariamente.
Ora reparem:
Tem de ter um carro antigo, daqueles que não se trocam porque residem na garagem, da qual só saem ao fim-de-semana para fazer o gosto ao pé do piloto e, consequentemente, não se deterioram, porque as Marias lhes puxam o lustro todas as 6ªs feiras à tarde.
Tem de deitar muito fumo pelo escape.
Muito mesmo, que o fumo não se evita com puxadelas de lustro.
O CFS tem, portanto, um carro com cerca de 26 anos e meio que aparenta ter acabado de sair do stand, mas que fumega mais que o Vesúvio durante aquela altura do nevoeiro em pompeia.
Em relação ao condutor em si, é necessário que a utilização dos piscas seja aleatória e independente das manobras, o ponto de embraiagem seja feito de forma a ouvir-se à distância a que se consegue ver o fumo (um não tem o mesmo efeito aquando da ausência do outro, quando o tema da condução pós semanal se discute) e que a velocidade nunca exceda os 30 km/h, o que nos remete para o próximo factor essencial e indispensável para que alguém possa ser considerado um genuíno CFS:
“O travar”.
Quando digo “o travar”, não me refiro ao simples acto de pisar o pedal do travão quando é necessário reduzir a velocidade ou parar o carro, mesmo.
Não.
Refiro-me a um acto mais instintivo do que a respiração em si, como que se o pé direito do piloto ali, repousado no pedal do meio, pertencesse.
Exacto.
O verdadeiro CFS trava como quem pisca os olhos, tendo ainda menos necessidade de justificar o travar do que o pestanejar.
O CFS de gema trava porque sim, trava porque não, trava porque está numa descida, trava porque está numa subida, trava “porque aí vem uma rotunda”, trava porque está a sair de uma rotunda, trava porque “aqui não há rotundas”, trava porque “ali vem um carro”, mesmo que seja na faixa contrária, trava porque “não vem nenhum carro, mas eles aparecem aí que nem coelhos, que eu sei, porque não nasci ontem e já conduzo duas vezes por semana vai para mais de vinte anos”, trava porque lhe apetece virar ali, trava porque “não apetece virar ali, mas pode vir a apetecer quando lá estiver mesmo em cima, que isto de mudar de direcção não é nenhum projecto de vida e pode e deve, por isso mesmo, ser decidido na hora H, conjuntamente com a utilização de qualquer um dos piscas”, trava porque está um semáforo lá ao fundo, trava porque “não há semáforos aqui, e isso é um perigo, por isso é melhor ir travando já, para que quando precisar mesmo de o fazer, já esteja feito”.
Segurança acima de tudo.
Sabem o que seria seguro, também?
Não sabem, mas eu digo:
Juntá-los todos em grupinhos de, vá lá, cerca de 40, pô-los dentro de uma espécie de carros grandes, conduzidos por profissionais que o façam diariamente, que obedeçam a carreiras pré-definidas e façam paragens em vários sítios, de forma a agradar a todos os CFS’s. Um conceito assim muito parecido com o dos transportes públicos, mas que se use também aos fins-de-semana.
Eu sei.
Sou um visionário.
Use a minha ideia, quem quiser e puder, e faça deste mundo um local melhor para todos nós, que eu não posso mais do que escrever baboseiras no meu blog internacionalmente desconhecido.
Beijinhos lustrosos.