Bem vindo à zona por mim escolhida para escrever o que me vai na cabeça..

...ou que, na maior parte das vezes, finjo que vai, porque fica sempre bonito fingir que se sente, como o poeta.

PS


quarta-feira, 30 de junho de 2010

Um dia

“Um dia ir-te-ás arrepender amargamente por não me teres querido quando te quis.”
-Vou? Porquê?
“Porque vais perceber o quão importante eu sou na tua vida. Vais ver, prepara-te.”
Eh lá, parece que aí vem artilharia pesada.
Mas daquela que vem depois de avisar…
Daquela pesada, que esmaga cegamente tudo o que apanha à frente, só que não apanha nada à frente, porque já avisou que vinha.
Artilharia pesada e fã de avisos.
Da inútil, precisamente.
Se me conhecesses minimamente, saberias que essa atitude insegura disfarçada de prepotência só me iria causar pena de ti…
“Vais ver, prepara-te.”
Para quê?
Eu não me preparo… despreparo-me, quando quero.
Despreparo-me. E custa-me.
Muito.
Por isso sorrio quando me dizes para me ir preparando.
Se estou pronto?
Eu estou é à espera.
Faço tudo por uma boa risada.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Entrem e sirvam-se

Isso, entrem todos. Vão embebedar essas racionalidades, já que nem chegam a ter o direito de as usar enquanto sóbrias. Pena que ninguém as use por vós… São milhões delas a irem para o desuso. É um desperdício quase necessário…
Se o que vos dizem lá dentro fosse realmente verdade, esse criador infinitamente sábio não atribuiria o fenómeno do pensamento a quem fosse achar o seu uso demasiado doloroso. Dá-lo-ia somente a quem tem gosto em se magoar em prol de uma milésima de conhecimento, ganha com suor e desespero, e não com reconfortos e atenção dada somente ao que gostam de ouvir.
Entrem, embebedem-se… assim nem irão notar quando outros gozarem com a vossa cara. Vão achar que os sóbrios é que estão bêbados, e isso agradar-vos-á, servirá de tema de conversa para com os vossos idênticos, e irá incentivar-vos a não perder a próxima bebedeira conjunta.
Entrem, fracos… evitem a ressaca mantendo-se embriagados. Foi para isso mesmo que nasceram: para passearem alegremente ao lado da vida, para serem felizes nessa bebedeira, para servirem de termo de comparação aos sóbrios – estúpidos mas conscientes - que por vezes ainda dispensam tempo discutindo com esse álcool que fala por vós.
Entrem, bebam à vontade, que este álcool não tem fim, é servido aos domingos em grandes quantidades, e diariamente em amostras, a troca de algo que não vos passa pela cabeça, mas que aparentemente só tem valor para quem o pede, e para quem não aceita cedê-lo a troco de nada.
Entrem e sirvam-se, vermes, evitem apenas trazer o álcool cá para fora, que eu gosto é de aguinha.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

São reais

“Gosto dos textos… mas são… como hei-de dizer? São… Reais.”
Reais.
Exacto.
“E a realidade magoa.”
Magoa, sim. Magoa porque a ignoram sempre que possível.
Ignoram-na, desprezam-na, ou rasgam-na e tentam cosê-la com linhas perfeitas, tecidas ao gosto de cada um.
Não faltam pessoas a falar dessas realidades de linha e agulha.
Não falta gente a tentar rasgar a realidade, a cosê-la a seu gosto, e a escrever sobre isso.
Não faltam seres a escrever sobre as realidades das linhas com cores de que todos gostam.
Não faltam mesmo.
Aliás, sobejam.
Mas, mesmo assim, não resulta. Vivem nesses remendos frágeis, vivem atrás da linha e da agulha, e uma vez por outra lá vem Aquela que nunca se ausenta, por mais que não a olhem de frente.
Lá vem Ela, e esteve só à espera de um puxão mais forte nessa linha para vos dar as boas vindas aos panos imaculados, crus e brancos, com as costas da mão.
Ela volta.
Sempre.
Escrevo sobre ela, já que poucos o fazem. Escrevo sobre o que muitos não gostam de ler.
A minha escrita relembra que remendos coloridos não equivalem a pano limpo, sem rasgos, vilmente perfeito.
E tento encará-La de frente, tendo também eu as minhas linhas, mas não gosto de coser.
Coso muito pouco.
Escrevo muito.
E sempre sobre panos brancos.

O Homem da vida dela

“Pensavas que eras tu o homem da vida dela? Não és…”
Espera, vou só rir e já penso nessa pérola.
Já está.
Mulher inconsciente, não digas isso. Eu não vivo nesse mundo de homens e mulheres da vida uns dos outros.
Não venhas tentar assustar o céptico com o bicho papão debaixo da cama.
Eu não vivo nesse livro infantil. Não escrevo a minha futura história perfeita cada vez que inicio uma a dois. Não considero alguém perfeito dois meses depois de o conhecer, e muito menos digo que considero com esperança de que isso influencie a realidade. Não ignoro esse livro de previsões cada vez que desço à Terra nem o volto a abrir à mínima impressão de levitação.
Não.
Não tenho livros a dois. Tenho o meu, e esse nunca irei ignorar. É a coisa mais importante que tenho.
O meu livro.
Racional, crítico e descritivo, mas só meu e de mais ninguém.
Por isso, ser limitado, quando te rires ao pensar que estou mal por não ser o “homem da vida dela”, lembra-te de que assim é por opção minha e que ela não me considera como tal porque a evitei como que a uma doença contagiosa.
Isso mesmo.
Evitei-a.
A ela e ao livro infantil onde já escrevia antes de eu saber da sua existência.
Não quero ser protagonista de livros para crianças.
Esse “homem da vida dela” foi a rolha tosca que conseguiu arranjar para tapar o provisório e não primeiramente meu espaço no seu conto de fadas, tal como outros irão aparecer e tomar o mesmo título quando o actual “homem da vida dela” se cansar de o ser.
A sério.
Não me conheces.
Eu penso minuciosamente a curto e longo prazo, não sinto o momento só porque sim. É isso que me diferencia de vocês todos.
Não fales do que não sabes.
Ah, e bom proveito para o coitado.
Vai precisar dele durante os próximos meses de dieta de carne caprina já meio mastigada.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Sente

Deixa-te sentir, que sentir é viver.
Sente.
Isso.
Dói... Pois. Faz parte.
Não sintas, então.
Não sintas, não vivas mais que assim não dói. Só dói a quem sente, e só vive a quem dói.
Viver outra vez?
Sentir outra vez.
Pois vai doer, sei. Também já vivi.
Viver sem doer? Não podes.
Sente e vive, ou esconde-te e vê quem o faz por não ter escolha.
Para eles é mais fácil, eu sei. Reagem, não decidem.
É a tua cruz... poder decidir.
Carrega-a.
Lamenta-a, se quiseres.
Ou orgulha-te dela.
Mas decide.